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terça-feira, maio 01, 2007 

Naqueles tempos...

Temos mais um partido que vai apresentar-se às eleições legislativas de 30 de Junho. Para Presidente do CNRT, os delegados elegeram Xanana Gusmão. Esta tarde, vi na RTTL a retransmissão da cerimónia do encerramento e ouvi parte do discurso então proferido por Xanana enquanto Presidente da República.
Xanana recordou o período anterior ao Vinte e Cinco de Abril de 1974, quando, em Timor, todos se cumprimentavam e eram amigos e a mudança operada logo a seguir à Revolução depois da formação dos partidos políticos timorenses, quando se instalou a desconfiança e o ódio e todos se passaram a ver não como adversários políticos mas como inimigos.
Não acho que seja negativo recordar que os timorenses já se deram bem, já foram amigos e se cumprimentavam na rua. Nem me parece que se trate de saudosismo. Antes me parece ser uma tentativa salutar de educar civicamente a população.
Até porque os jovens de hoje – os que nasceram durante a ocupação indonésia - desconhecem quase tudo da nossa História antes da ocupação. A única realidade que conhecem tem a ver com timorenses desavindos, sempre em dois lados distintos da barricada, assim se formando a ideia errada de que é essencial a existência de maus e bons, heróis e vilões, anjos e demónios e a necessidade de termos – sempre! - de escolher um dos lados para podermos sobreviver…
Entretanto, logo nos primeiros tempos da nossa curta independência se firmou a ideia de que “quem não é por mim, está contra mim”; a preferência por uns e a marginalização de outros abriu de imediato caminho para nova faceta da luta pela consolidação do poder de uns e pela sobrevivência de outros, provocando, nestes, alguns suspiros saudosos dos tempos da ocupação.
Há que lamentar, naturalmente, que haja quem recorde com nostalgia o tempo anterior a 20 de Maio de 2002 - o da ocupação indonésia, com prisões arbitrárias, desaparecimentos, violência, perseguições, milhares de mortos - esquecendo e preferindo o sofrimento então infligido a estes tempos de independência infelizmente ligada à exclusão, porque “tínhamos tudo, só não tínhamos liberdade” …
É pena que o desaparecimento do ambiente tranquilo e das boas relações entre os timorenses esteja circunstancialmente ligado ao aparecimento dos partidos políticos, para o qual, é verdade, não estávamos preparados; é pena que se tenha interpretado erradamente a mensagem de Vinte e Cinco de Abril de 1974, usando da pior forma possível a liberdade e os partidos políticos.
É pena que os jovens timorenses, ontem como hoje, pensem que é forçoso que cultivemos dois campos diferentes para nos podermos digladiar, sendo heróis ou bandidos mas, necessariamente, tendo de esmagar o outro e surgir como vencedor!
Muito já se disse, já se falou e se escreveu sobre a nossa imaturidade política em 1974 como uma das razões para o conflito interno de que resultou a invasão indonésia.
Mas, 33 anos volvidos sobre a formação dos partidos políticos, estaremos agora mais maduros? Se assim é, como se explica que tenhamos caído no mesmo erro de 1974/75, dando mais importância àquilo que nos desune do que aquilo que nos une? Como é possível que em 2007 se labore no mesmo erro de há 33 anos, pensando-se que Timor só pode ser de uns e por ser destes, os outros não contam não tendo de lhes ser reconhecido o direito à terra onde nasceram?
Como é possível que, agora, que estamos mais informados, mais politizados, mais abertos ao Mundo, que somos independentes e temos o destino deste país nas nossas mãos, não paremos um pedaço para reflectir, dialogar, dar as mãos e construir um Timor-Leste diferente, onde todos possamos viver em paz, sem medos, sem desconfianças, assumindo naturalmente as convicções políticas, partidárias de cada um, como timorenses que todos somos, com as mesmas obrigações e os mesmos direitos?
Não é muito difícil e para tanto basta que todos saibam que a vivência democrática normal implica tolerância, respeito, bom relacionamento, educação...

Há 34 anos essas desavenças foram interrompidas pela invasão indonésia. Hoje, tantos anos volvidos, como terminará essa desavença?
Eu aposto na guerra civil gerada por jovens manipulados que não conhecem o doce sabor da paz e convivência fraterna. A mesma de que falava Xanana.
Excelente texto, Ângela, excelente.

Coloco aqui, com devida venia, um pequeno poema de MINARAI.
Talvez nos ajude a reflectir antes de andarmos a incriminar uns aos outros.

QUANDO O PETROLEO DORMIA

NO NOSSO TEMPO DE INFANCIA
PAZ E AMOR SEMPRE EXISTIA
POBREZA NAO TINHA IMPORTANCIA

AGORA LIQUIDO INFERNAL
QUE ACORDASTE EM TERRA MINHA
TROUXESTE GRANDE VENDAVAL
MATANDO O AMOR QUE A GENTE TINHA

MINARAI.
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Muito obrigado.

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