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quarta-feira, abril 25, 2007 

De quem é a culpa?

Passou um ano sobre o início das manifestações e dos tumultos que se lhe seguiram.
Por essa altura, apesar de muito descrentes, ninguém poderia prever que a instabilidade se mantivesse por tanto tempo.
No fundo, todos tínhamos esperança – ainda que muito ténue - de que as coisas se resolvessem a bem, acreditando ainda que todos os timorenses tinham voltado definitivamente as costas à violência, tão grande fora o seu sofrimento durante os anos da ocupação indonésia.
Em vez de termos virado costas à violência, preferimos criar novos motivos para nos digladiarmos.
Sobra tempo para a invenção diária de novas armas, de novas formas de luta. Insultamo-nos, ameaçamo-nos, ferimo-nos, matamo-nos.
Vale tudo e tudo serve como arma de arremesso. As palavras e as pedras não são apenas utilizadas por jovens sem eira nem beira, por vândalos, bandidos ou bêbados. Somos todos francos atiradores e todas as oportunidades servem para praticarmos a pontaria!
Perdemos as referências e já nem os heróis da Resistência se salvam!
Todos somos bandidos. Todos somos inimigos. É assim que somos vistos pela outra parte, a que pensa diferente de nós. Por outros timorenses, como nós.
E como o perigo mora em todo o lado e espreita de qualquer esquina, aceitamos a presença das forças estrangeiras de arma em punho, patrulhando, guardando as ruas, garantindo a nossa segurança, guardando-nos do inimigo, outro timorense, que está em toda a parte...
O país está parado. As instituições do Estado quase fecharam. A maior parte dos ministros anda fora. Há outras prioridades. Como a campanha eleitoral. Como o Poder. O povo é que não é prioridade.Mas serve para dar votos. Fazem-se promessas. Distribuem-se uns rebuçados que o povo é pobre e é sensível a rebuçados!
E o povo espera, espera, espera que um dia sejam cumpridas todas as promessas que têm sido feitas desde que em 1974-75 se soube da existência de uma porta mágica para o armazém cheio de ouro do Tata Mai Lau até quando lhe foi prometida uma ponte Díli-Ataúro em 2001 ou, já na época do petróleo, em 2007, do petróleo canalizado, correndo nas nossas casas como corre a água nas torneiras...
Uns dão o arroz que faltou ainda não há muito tempo, outros dão cobertores, outros devolvem o dinheiro aos estudantes...
O país está parado, os campos de refugiados continuam cheios, o desemprego aumentou, os confrontos e os apedrejamentos mantêm-se.
A culpa é dos que não têm capacidade para resolver em dez meses a crise herdada de um governo que governou quatro anos; é dos capitalistas; é dos comunistas; é da oposição; é da FRETILIN; é dos malais; é dos mestiços, dos malai-oan; é dos Lorosae; é dos Loromunu; é dos quemak ou dos firacos; é dos bunak ou dos caladis; é dos partidos políticos; é das FDTL; é da PNTL; é dos que pensam diferente; é da Igreja; é dos tribunais; é dos refugiados; é dos vizinhos... A culpa é de todos os outros que não daquele timorense iluminado, único, que, de dedo em riste, aponta o Mundo à sua volta que teima em não seguir o que o único timorense iluminado ordena!

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