Profundíssimo Timor!
Quando se viaja por Timor, aprende-se muito e passa-se a ver o Mundo com outros olhos. Por vários motivos. Um deles é a constatação da extrema pobreza em que vive o povo timorense. Outro, tem a ver com a afabilidade e a generosidade das populações do interior e com o sorriso das crianças. Ou a sua tristeza, como aconteceu em Same, onde as crianças não sorriem , pouco falam, não cantam e só olham, assustadas.
No interior - e fora da sede dos distritos onde há muitas limitações mas sempre vai havendo água canalizada, serviços super-mínimos de saúde, energia eléctrica de dois em dois dias, alguns transportes ou telefone móvel ainda que numa área limitada - as populações vivem o dia-a-dia, que é como quem diz, vêem passar os dias sempre iguais, fazem uma festa quando passa um carro e esperam que um dia a morte os leve, sem nunca lhes ter sido dada a oportunidade de melhorar as suas precaríssimas condições de vida. Provavelmente, até sem nunca saberem que é possível, até mesmo em Timor-Leste, viver melhor!
Se tiverem a sorte de viver numa zona considerada boa para a agricultura, sempre podem cultivar algumas batatas, milho, legumes, mandioca. Se não, bem têm de agradecer a Maromak ter-nos dado um país onde se comem até as raízes, o feijão-bravo venenoso -cozido algumas horas em pelo menos umas sete ou oito águas até perder todo o "veneno" - ou o maek, um tubérculo que também precisa de muitas horas de cozedura em fogo muito lento, debaixo da terra, para se tornar comestível sem nos deixar a boca e a garganta inchadas pela comichão provocada, tal é a sua toxicidade!
Pobres, sem mais nada senão o que Deus, Maromak ou a Natureza lhes oferecem, é com um sorriso alargado que partilham a sua refeição, que pode ser um pedaço de mandioca ou umas maçarocas de milho. E se não houver café ou chá, sempre se pode beber um copo de água quente ou fria. E se falhar isso, haverá água de coco; e, na falta de tudo, persiste o sorriso acompanhando o pedido de desculpas por não terem nada!
Ao sair de Díli, onde - apesar das limitações - se vive com relativo conforto, é inevitável pensarmos nas dificuldades com as as quais nos vamos deparar e na melhor forma de as superar.
Naturalmente, muitas dessas dificuldades são vistas pelas populações do interior como "manias" ou "esquisitices" de quem vive na cidade, nesta cidade de Díli, com alguma comodidade.
E, se nos primeiros momentos torcemos o nariz sempre que temos de utilizar um barraco a que pomposamente se dá o nome de hariis-fatin (casa-de-banho), é mais que certo que as nossas esquisitices desaparecem quando, por exemplo, a solícita dona de casa nos traz um balde de água transportado por uma criança-ajudante de quase um quilómetro de distância para que possamos tomar banho.
Quando olhamos à nossa volta, reparamos que há sempre umas escovas de dentes - só escovas, sem pasta de dentes, que o dinheiro não dá para tanto! - ainda que colocadas nos sítios menos próprios, como no parapeito da janela, junto ao tanque de água ou mesmo no tronco de uma árvore. Inevitavelmente, recordo que, nos tempos da minha meninice, via muitas mulheres esfregando os dentes com carvão. Diziam que os tornava mais brancos.
A "sintina" e a "hariis-fatin" precisariam de uma boa barrela, é certo mas, até mesmo a lixívia é um luxo! E, se grande parte das vezes não há água nem há dinheiro, quem pode falar de detergentes?
Uma casa construída com blocos de tijolo, é sinal de melhoria de qualidade de vida. A casa não tem forro e não está pintada. As madeiras das janelas e das portas são substituídas por cortinas que nunca as tapam na totalidade. Mas é uma casa!, ainda que simples, como dizia a jovem dona de uma delas.
É que, na maioria das vezes, a casa de palapa coberta de colmo, mantém-se de pé quase que por milagre, tão inclinada que nos faz pensar que a primeira rabanada de vento ou a chuva seguinte a porá no chão sem apelo nem agravo...
Viajei de Ainaro a Suai - umas quantas horas - sem nunca ter tido hipótese de utilizar o telemóvel porque não havia rede. O mesmo, da Lois até Maubara. E sempre que olhava para o aparelho mudo, questionava-me: e se houver um problema, que fazemos?
Hoje, também me coloco questões. Por exemplo, no percurso que fiz, quantas pessoas terão telemóvel, quantas saberão o que é e para que serve um telefone, quantas terão tido hipótese de viajar de carro, quantas saberão o que é ter um comprimido à mão se tiverem uma dor de cabeça, quantas se terão banhado com sabonete, utilizado pasta de dentes, etc, etc, etc? Isto, para não falar do que é ainda mais básico e que, mesmo assim, não faz sequer parte dos sonhos do timorense do interior porque esse desconhece que há outras coisas para além de ver nascer e pôr-se o Sol e a Lua, de esperar pela época das chuvas ou chamar a criancinha com quem vai partilhar o pedaço de mandioca, refeição de um dia inteiro, ou ter um dia diferente quando passa um carro ou quando os passageiros desse carro lhe dão dois dedos de conversa e lhe provocam um sorriso no rosto como se fosse o ser mais feliz do Mundo!
É dura a realidade timorense! E, não obstante, temos petróleo, temos fundos desse petróleo! Somos ricos! Quem diria?
No interior - e fora da sede dos distritos onde há muitas limitações mas sempre vai havendo água canalizada, serviços super-mínimos de saúde, energia eléctrica de dois em dois dias, alguns transportes ou telefone móvel ainda que numa área limitada - as populações vivem o dia-a-dia, que é como quem diz, vêem passar os dias sempre iguais, fazem uma festa quando passa um carro e esperam que um dia a morte os leve, sem nunca lhes ter sido dada a oportunidade de melhorar as suas precaríssimas condições de vida. Provavelmente, até sem nunca saberem que é possível, até mesmo em Timor-Leste, viver melhor!
Se tiverem a sorte de viver numa zona considerada boa para a agricultura, sempre podem cultivar algumas batatas, milho, legumes, mandioca. Se não, bem têm de agradecer a Maromak ter-nos dado um país onde se comem até as raízes, o feijão-bravo venenoso -cozido algumas horas em pelo menos umas sete ou oito águas até perder todo o "veneno" - ou o maek, um tubérculo que também precisa de muitas horas de cozedura em fogo muito lento, debaixo da terra, para se tornar comestível sem nos deixar a boca e a garganta inchadas pela comichão provocada, tal é a sua toxicidade!
Pobres, sem mais nada senão o que Deus, Maromak ou a Natureza lhes oferecem, é com um sorriso alargado que partilham a sua refeição, que pode ser um pedaço de mandioca ou umas maçarocas de milho. E se não houver café ou chá, sempre se pode beber um copo de água quente ou fria. E se falhar isso, haverá água de coco; e, na falta de tudo, persiste o sorriso acompanhando o pedido de desculpas por não terem nada!
Ao sair de Díli, onde - apesar das limitações - se vive com relativo conforto, é inevitável pensarmos nas dificuldades com as as quais nos vamos deparar e na melhor forma de as superar.
Naturalmente, muitas dessas dificuldades são vistas pelas populações do interior como "manias" ou "esquisitices" de quem vive na cidade, nesta cidade de Díli, com alguma comodidade.
E, se nos primeiros momentos torcemos o nariz sempre que temos de utilizar um barraco a que pomposamente se dá o nome de hariis-fatin (casa-de-banho), é mais que certo que as nossas esquisitices desaparecem quando, por exemplo, a solícita dona de casa nos traz um balde de água transportado por uma criança-ajudante de quase um quilómetro de distância para que possamos tomar banho.
Quando olhamos à nossa volta, reparamos que há sempre umas escovas de dentes - só escovas, sem pasta de dentes, que o dinheiro não dá para tanto! - ainda que colocadas nos sítios menos próprios, como no parapeito da janela, junto ao tanque de água ou mesmo no tronco de uma árvore. Inevitavelmente, recordo que, nos tempos da minha meninice, via muitas mulheres esfregando os dentes com carvão. Diziam que os tornava mais brancos.
A "sintina" e a "hariis-fatin" precisariam de uma boa barrela, é certo mas, até mesmo a lixívia é um luxo! E, se grande parte das vezes não há água nem há dinheiro, quem pode falar de detergentes?
Uma casa construída com blocos de tijolo, é sinal de melhoria de qualidade de vida. A casa não tem forro e não está pintada. As madeiras das janelas e das portas são substituídas por cortinas que nunca as tapam na totalidade. Mas é uma casa!, ainda que simples, como dizia a jovem dona de uma delas.
É que, na maioria das vezes, a casa de palapa coberta de colmo, mantém-se de pé quase que por milagre, tão inclinada que nos faz pensar que a primeira rabanada de vento ou a chuva seguinte a porá no chão sem apelo nem agravo...
Viajei de Ainaro a Suai - umas quantas horas - sem nunca ter tido hipótese de utilizar o telemóvel porque não havia rede. O mesmo, da Lois até Maubara. E sempre que olhava para o aparelho mudo, questionava-me: e se houver um problema, que fazemos?
Hoje, também me coloco questões. Por exemplo, no percurso que fiz, quantas pessoas terão telemóvel, quantas saberão o que é e para que serve um telefone, quantas terão tido hipótese de viajar de carro, quantas saberão o que é ter um comprimido à mão se tiverem uma dor de cabeça, quantas se terão banhado com sabonete, utilizado pasta de dentes, etc, etc, etc? Isto, para não falar do que é ainda mais básico e que, mesmo assim, não faz sequer parte dos sonhos do timorense do interior porque esse desconhece que há outras coisas para além de ver nascer e pôr-se o Sol e a Lua, de esperar pela época das chuvas ou chamar a criancinha com quem vai partilhar o pedaço de mandioca, refeição de um dia inteiro, ou ter um dia diferente quando passa um carro ou quando os passageiros desse carro lhe dão dois dedos de conversa e lhe provocam um sorriso no rosto como se fosse o ser mais feliz do Mundo!
É dura a realidade timorense! E, não obstante, temos petróleo, temos fundos desse petróleo! Somos ricos! Quem diria?
Olá Angela gostaria de trocar ideias consigo se fosse possivel o meu E-mail é o seguinte fernando.caixinha@hotmail.com , com os melhores cumprimentos
Posted by Unknown 2:38 da tarde
É a dura a realidade daquilo que está acontecendo em Timo-Leste! Observo que a Ângela é uma humanista e lhe fere a alma pelo que os seus olhos vão vendo no dia a dia.
Vi tanta gente inserida na autodeterminação do povo de Timor-Leste, desde há quase 20 anos, que futurei que depois do dia belo de Maio de 2002 (na proximidade dos cinco anos), a gente de Timor-Leste viesse a gozar a liberdade, paz, trabalho e muito arroz para se alimentar.
Impávido e sereno (não muito distante de Timor-Leste), assisti (através da RTPi) as constantes viagens desta o daquela personalidade pública, onde se incluia gente de todas as áreas: da política, da vida artistica, e empresarial.
Timor-Leste era assim para mim espécie de uma "passerelle" onde todos os modelos pretendiam caminhar na "passadeira" e exibirem-se.
Não vou aqui referir nomes porque seriam muitos...
Até demais!
Os governantes que o Povo os elegeu e confiou neles, foram uma autêntica tragédia na gerência do Governo.
Parece-me que andaram em disputas para ver quem é que "açambarcavam" mais privilégios "under of the table"; em lutas intestinas e até as amizades que era as da "peitaça" foram colher malvas.
É esta a realidade nua e crua da miséria que a nobre gente da sua terra está a sofrer...
Continue a despejar aquilo que lhe vai na alma.
Vale a pena de continuar e não parar até que a felicidade venha ao encontro do Povo de Timor-Leste que bem a merece.
Cordialidade
José Martins
Posted by Anónimo 9:59 da manhã
olah Nuta
Parece que ah um despertar!
Depois de tanta asneira e teimosia, muitas vezes dah vontade de ser negativo e dizer que "Os povos tem os governos que merecem". No entanto parece que jah existe um despertar de consciencias, e ainda que sejam soh aragens de mudanca eh algo de positivo. Veremos o futuro. Estou longe de tudo e de todos, e gostaria de ter noticias vossas e desse tao amado Timor. Serah que me podes dar uma mao? o meu email eh o seguinte marloscanuel@Yahoo.co.uk
Um braco. Manuel Carlos
Posted by buan 12:41 da tarde