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quarta-feira, março 21, 2007 

Dois dedos de conversa


A pausa não é desejada. É apenas originada pela falta de tempo.
Bem sei que diz o ditado português que “quem corre por gosto, não cansa…” e eu corro (oh, se corro!) mas, por muito que corra, não arranjo tempo para fazer tudo o que quero.
E, depois, em período eleitoral, especialmente quando o envolvimento é directo, nem sempre é fácil manter o distanciamento necessário ou fazer de conta que nada se passa à nossa volta… ou que o céu está azul quando à frente dos nossos olhos se vêem nuvens cinzentas, escuras…
Também se diz que quando não há nada para se conversar, fala-se do tempo. Verdade! Tão verdade como falar do tempo quando há muito mais para se dizer, mas o bom senso aconselha contenção, necessário distanciamento…
Por isso me mantive silenciosa por uns dias.
Depois de amanhã, começará oficialmente a campanha.
A par do meu trabalho, vou fazer algo que deixei para trás há precisamente um ano: andar pelos distritos, fotografar, olhar a paisagem em serena contemplação (nem que seja só por uns minutos!), conversar com pessoas da montanha, ouvir histórias e, depois, recontá-las…
Obviamente, este ano será diferente. As condições de insegurança obrigam a que, querendo ou não, tenhamos de andar pelo país acompanhados, seguros, guardados. Para isso é que aqui estão as forças internacionais…
Durante 12 dias não terei oportunidade de escrever diariamente. É que ainda não há Internet na montanha… Mas, sempre que regressar a Díli, virei aqui assinar o ponto!
Desta vez, até vou para a montanha guiando o meu jeep, o meu Pajero branco! Vai ser uma aventura!
Só espero é que não me aconteça o que nos aconteceu nas eleições para a Constituinte de 2001, quando ficámos atolados na ribeira de Irabere e dormimos ao relento, vendo relativamente perto, bem nomeio da ribeira, os olhos dos crocodilos brilhando no escuro…
Tenho a impressão de que foi por ter atirado para a ribeira – a pedido de um grupo de jovens - uma nota de cinco mil rupias para satisfazer os desejos de consumo de carne fresca do Avô crocodilo que ele não me trincou a perna…
Às vezes penso que lhe bloqueei a bocarra com a nota e ele ficou com os músculos tolhidos, sem conseguir abrir a boca… Imagino então que me tornei poderosa… Bem, isso acontece apenas umas décimas de segundo. Caio na real logo a seguir…
Na noite de Irabere, dormi sob um céu estrelado, junto a uma fogueira atiçada volta e meia para manter o avô crocodilo bem longe, ajudei a construir uma “ponte” e a arranjar uma estrada. Se o não tivéssemos feito, em vez dos dois dias em que ficámos em Irabere, teríamos ficado por lá até que alguém se lembrasse de nós.
É verdade que se lembraram. Mas essa é outra longa história e ficará para outra ocasião.