« Página inicial | Acabou-se a tranquilidade! » | Profundíssimo Timor! » | O outro lado das presidenciais » | Dificuldades do "povo kiik" » | Para onde vamos nós? » | O dia do voto » | Ai,Timor! » | Eleições à porta » | Estou de volta! » | Dois dedos de conversa » 

domingo, abril 22, 2007 

Os portugueses em Timor-Leste

Os portugueses em Timor-Leste, qualquer que seja a razão da sua presença no país, são indubitavelmente os estrangeiros sobre quem recaem todas as atenções. Faz sentido. Quase cinco séculos de vivência comum justificam a atenção com que os nacionais do país colonizador, hoje regressados a Timor independente, são olhados pelos antigos colonizados.
Assim, não admira que dos portugueses se diga que “já não são como os de antigamente”, sempre que a sua presença se salienta por qualquer acto que não caia no agrado dos timorenses. Ou que, ao invés, também se diga que “os portugueses são os únicos que ajudam incondicionalmente Timor-Leste”.
De entre os portugueses, há os que cumprimentam reverencialmente os titulares do Poder, baixando a cabeça, colocando os olhos na biqueira dos sapatos e acompanhando o gesto com uma exagerada dobra de cintura quase provocando o seu desequilíbrio! E, tão atentos e veneradores desse Poder, fogem dos elementos críticos ou marginalizados pelo Poder como o diabo foge da cruz, antes que percam o contrato de trabalho se alguém os vir, nem que seja a dois metros de distância, dos elementos discordantes do Poder vigente!
Há aqueles que vêm trabalhar, não olham para ninguém – nem sei se conhecerão os traços fisionómicos dos timorenses! - e tanto estão aqui como poderiam estar no Afeganistão; há os que dizem em público e de forma paternalista que “os timorenses são muito simpáticos” mas, no seu círculo de amigos comentam à gargalhada que “são uns selvagens, uns burros, não aprendem nada!”, sem sequer cuidar de que pode sempre haver quem os oiça… Afinal, cinco séculos de História comum também têm como resultado que a língua portuguesa, mesmo sendo falada por uma ínfima parte dos timorenses, continua a ser por muitos destes compreendida…
Com os comportamentos acima descritos, há-os em todas as áreas da cooperação em que se encontrem, qualquer que seja o seu estatuto.
Sendo luso-timorense, é lógico que não me sinto muito confortável quando é evidenciado o lado negativo da presença portuguesa em Timor, tal qual como também não gosto nada de ouvir criticar os timorenses. A crítica negativa, ainda que justa, sinto-a sempre como uma farpa na minha fortíssima costela portuguesa e timorense. Assim sendo e porque não estou aqui para sofrer, para falar do que de mau existe entre os portugueses, chega a nota introdutória.
Obviamente, existem – graças a Deus! – aqueles portugueses que estão em Timor por genuína vontade de contribuir para o desenvolvimento do país. Há os que simpatizam com os timorenses e, quem quer que eles sejam, independentemente da classe social ou política a que pertençam, os tratam como seres humanos iguais. E são alguns os portugueses dessa cepa, felizmente. Só que, por serem mais discretos, por não serem iluminados pelas luzes da ribalta que o Poder sempre proporciona, nem sempre deles se fala. Mas que os há, há!
Exemplo disso é o José Queirós, da CGD/BNU que, ao fim de quatro anos de comissão, partiu hoje de Díli.
E quem não conhece o senhor Queirós do BNU? Sempre afável, prestável, com vontade de ajudar fossem os clientes ricos, pobres, amigos de ministros, estrangeiros ou timorenses, o senhor Queirós era um excelente cartão de visita da CDG/BNU em Díli, cumprindo com rigor e saber as suas funções, aliando ao seu evidente profissionalismo um traço de profunda sensibilidade humana que não é muito vulgar ver-se hoje em dia.
Há muitas histórias em que o humanismo, a afabilidade, a sensibilidade do José Queirós são bem evidenciadas.
Há tempos, uma senhora amiga estranhou a ausência de um funcionário idoso a quem cabia a tarefa de encaminhar os clientes do banco aos serviços pretendidos. Soube que o senhor estava gravemente doente e foi visitá-lo a casa. Acamado, fragilizado, sem outro apoio que não a precária ajuda prestada pelos familiares próximos tão pobres quanto ele, o velho senhor contou à senhora que os medicamentos com que estava a ser tratado eram muito caros e ele só os tinha porque eram pagos pelo senhor Queirós. Mas, acrescentou “não sei como vai ser quando o senhor Queirós se for embora”.
No banco, creio que já todos devem ter experimentado as receitas de arroz doce e de outras delícias da doçaria portuguesa dadas pelo senhor Queirós, num claro exemplo de que é possível acamaradar com os funcionários subordinados e manter o respeito que a superioridade hierárquica sempre exige.
Ontem, o Fórum dos Empresários ofereceu-lhe um almoço de despedida, marcado pela emoção, por muitas lágrimas.
No discurso que então proferiu, e a propósito da presença massiva de muitos amigos portugueses e timorenses entre os quais se salientava a dos funcionários timorenses da CGD/BNU, dizia ontem o empresário Júlio Alfaro – também ele descendente de portugueses - que o José Queirós personificava os portugueses de antigamente com quem os timorenses mantinham relações plenas de afecto, de amizade, deles ficando a saudade, sempre que de Timor se iam embora.
José Queirós partiu hoje. No último dia da sua estada em Timor, ainda trabalhou até às cinco horas da manhã, cumprindo o que era um acto rotineiro destes quatro anos de trabalho. Hoje, no aeroporto, pleno de funcionários e amigos timorenses e portugueses, choraram todos, juntando as suas às fartas lágrimas de José Queirós.
É com satisfação que registo que ainda há muito quem se lembre de como eram os portugueses de antigamente e as suas normais e amistosas relações com os timorenses!
Com alguma tristeza também, registo a partida de um homem que só pode deixar os portugueses orgulhosos por ter sabido tão bem levar a cabo as suas funções, sem se deixar encadear pelas luzes de brilho efémero mas estonteante da proximidade do Poder; muito especialmente, porque tratou os timorenses como seus iguais, ensinando, transferindo o seu saber, sendo solidário, cultivando laços de profundo afecto. Esse afecto de que alguns portugueses que hoje demandam estas terras parecem ter esquecido ter sido a imagem de marca - desde sempre e mau grado o “colonialismo” português – da colonização portuguesa em Timor.

Sinto-me orgulhosa do desempenho desse senhor português, da amizade e da imagem que deixou em Timor. Engraçado que quando aí estive tinha a sensação que havia uma maior aproximação entre os timorenses e os portugueses, das missões internacionais, do que com povos de outras nacionalidades. Lamento que parece que assim já não seja. Abraço

Quando estive em Timor (fui sozinho para um projecto na UNTL) tive a felicidade de além de conhecer e juntar ao grupo de professores Portugueses, conhecer o Sr Queirós, que assim que soube dos meus problemas pegou imediatamente no telefone para me arranjar o contacto que precisava. Foi das pessoas que notei que faria tudo possível (dentro do seu poder) para ajudar Timor, mas também preocupado com a falta de acção (ou de reacção) da maioria dos Timorenses (ora deixam-se levar, sem pressas, até que as coisas se resolvam, ora mais interessados no proveito próprio e esquecendo a evolução da nação Timorense).
Gostaria que muito mais gente como ele fossem para Timor e que existissem mais gente como ele nas classes dirigentes de Timor.

Este comentário foi removido pelo autor.

Caro amigo: : e para relaxar depois de ler os o artigo da D. Angela Carrascalão, leia alguns poemas no "Timor do Norte a Sul". Hoje o \s destaques vão para dois poemas , um do Felizardo Guerra e outro do Crisódio Marcos. Aqui vai o site:

http://timordonorteasul.blogspot.com/

Obrigada

Maracuja Maduro

Subscrevo tudo o que disse em relacao ao senhor Queirós do BNU. Lembro-me de quando ha ja perto de um ano, estando a situacao em Dili ao rubro, ele permanecia no seu posto de trabalho, quase sozinho, para manter o banco a trabalhar permitindo que houvesse levantamento de dinheiro para pagar salarios, ou pelo menos parte deles, a timorenses funcionarios de ONGs, empresas, etc, numa altura em que o dinheiro era tao necessario. Tambem os professores portugueses que iam partindo na altura puderam assim levantar o seu. E eu que fiquei ca e nao fui de ferias tambem pude assim levantar dinheiro que me poderia ser util se as coisas tivessem dado mais para o torto.

É bem verdade o que diz. Quer quanto ao "pai Queirós", como alguns amigos meus lhe chamam, quer quanto à postura dos portugueses.
Estive aí 3 anos numa entrega total ao que fazia, aos meus irmãos timorenses, a mim próprio e à minha consciência. Não estaria assim em qualquer parte do mundo - Timor é uma coisa antiga no meu coração. Também não o digo de forma paternalista. Os timorenses são mesmo simpáticos, boa gente - consigo compreendê-los. Não os recrimino, compreendo as suas dificuldades. São inteligentes, muito. Sabem resistir, têm o mais apurado sentido político que jamais encontrei - sejam os adultos, sejam mesmo as crianças!
Um povo que tem poesia no olhar e no sorriso, mesmo com todos os problemas. Um povo, especialmente a mulher timorense, que tem uma graciosidade única.
O padre Felgueiras dizia-me que as senhoras timorenses são delicadas, tudo o que fazem é como se fizessem filigrana - pude constatá-lo na forma até como cozinhavam, nos seus doces, naquelas saladas de flor de ai-dila (não se sei se escrevo bem) que davam uma trabalheira enorme para gáudio dos convivas.
Bem, podia falar horas a fio sobre o meu amor por Timor e pelos timorenses.
Os timorenses, mesmo os desconfiados, sempre tiveram os braços abertos para um longo abraço aos portugueses, que nem sempre o souberam, ou quiseram, reconhecer.
Ir ao encontro do outro, aparentemente tão diferente, não é tarefa fácil. Mas no fundo, os timorenses são tão parecidos com os portugueses. Por isso, senti-me sempre em casa e confesso até que nunca fui tão feliz na vida!
Mas presenciei muitas coisas erradas na cooperação portuguesa, e creio que fui vítima de muitas também.
Vejo com tristeza profunda que muitos não têm a humildade suficiente para reconhecer, além dos problemas existentes, a grandeza dessas gentes. E quando o digo, olho para o futuro. Olho para o quanto seria bom estarmos unidos na paz, na fraternidade, na língua que é vossa e nossa.
Um abraço forte, um abraço ao Sr. Queirós.

Infelizmente cá em Portugal não lhe reconhecem o valor, e se for preciso ainda o espezinham...
não há ninguem tão humano como o Queirós, e estes 4 anos serviram para tirar as dúvidas de quem ainda duvidava disso...os "burros e selvagens" são os que não veêm isso...ou não querem ver...
beijinhos Queirós...

Portugueses bons e maus...há tanto agora como no antigamente! A memoria é curta.
Timorenses bons e maus há tanto agora como antigamente! A memória é curta.
O que Timor precisa é de bons profissionais, gente que se adapte às circunstancias e ao pais e povo com que vive, mais do que gente simpatica!
E este Senhor que no tempo em que estive em Timor não conheci(não havia CGD) parece de facto ser um bom profissional!É que ser bom profissional implica muitos componentes para lá do desempenho tecnico

Olah Nuta
li com muita atencao a tua rica prosa sobre "Os portugueses em Timor Leste" e o nome desse senhor que infelizmente nao conheci trouxe-me ah mente outros Queirozes que por ai passaram. O "TATAKEI" de seu nome Luis Queiroz foi em vida um desses Portugueses antigos que soube respeitar e compreender o povo de Timor. Tambem ele partiu e deixou lagrimas e saudades, mas ele nunca mais podera voltar.Do Atauro ao Suai passando por todo o TIMOR (arrastado pela Fretilin) ele semeou bem fundo o seu humanismo e a sua simplicidade no coracao dos que compartilhavam o seu dia a dia. Muito mais poderia escrever sobre ele, daria para um livro, mas por hoje jah chega. Adeus Queirozes TIMOR precisa de voces.
um abraco. Manuel Carlos

Conheço há muitos anos como colega e como amiga o José Queiróz. Foi do nosso lado que ele saíu corajosamente para Timor. Todos os colegas sentiram muito, quando ele foi e ansiámos sempre pelo seu regresso, preocupando-nos com ele quando sabíamos, pelos meios de comunicação, que as coisas estavam turbulentas por lá. Quando ele estava a preparar-se para ir e nós nem queríamos acreditar e lhe perguntávamos porque ía para tão longe, ele sempre respondia que ele achava que tinha um certo sentido de missionário e que esta era uma missão que ele tinha na vida e que devia cumprir! Devo dizer que eu creio que todos respeitamos esse sentimento dele.E passou um ano, dois, três, quatro... De vez em quando dizia que estava quase a regressar, mas esse quase ... nunca mais era!Já falei com ele depois de ele regressar e perguntei.lhe se sentia cumprida a sua missão que o levara a Timor. Ele disse que sim e e eu não tenho dúvidas disso. Aquilo que ele sempre foi para todos os colegas portugueses em amizade , em respeito, em ajuda, em dedicação foi sem sombra de dúvidas, tenho a certeza, o que ele foi para o povo Timorense. Grande Queiróz! Desejo muito que te saibam dar o valor que tu mereces como profissional, mas sobretudo como pessoa. Mereces todo o nosso respeito e amizade que tu sabes que muitos te dedicam. O país devia homenagear o português que tu és.

Será que ainda existe “um senhor Queirós” em Timor?
Sou um português/australiano a residir em Sydney, e sempre desejei conhecer Timor.
Vim com a família para a Austrália em 1980, como “refugiado profissional”. Fui funcionário na Fundação Caloust Gulbenkian em Lisboa, mas o 25 de Abril veio mudar as prespectivas da minha carreira profissional. Senti-me frustrado, e a Austrália abriu-me as portas. Aqui sou feliz, etenho a minha família aumentada.

Nas minhas idas de férias a Portugal com a minha esposa, já visitamos Goa, Damão, Malaca e Macau. Angola e Moçambique já lá tinha estado em trabalho. Agora e aqui mais perto seria a vez de Timor.

Quero com isto dizer, que se houver uma possibilidade de um intercâmbio de amizade, entre duas famílias (eu e minha esposa e um casal ou família portuguesa ou timorense), alem de interessante seria o ideal.

Somos um casal de 70 anos, estando eu ainda temporáriamente no activo, mas podendo dispor de um par de semanas para conhecer Timor.
No caso de encontrar por aí quem possa comungar do mesmo interesse, poderia entrar em contacto comigo através do correio electrónico para trocar-mos informações.

Manuel da Costa
21 de Março de 2009

EU ACHO RIDICULO QUANDO OS TIMORENSES ESTÃO A PROCURA DE SORRISOS DE PORTUGUESES. OS PORTUGUESES VÃO PARA TIMOR CUMPRIR TRABALHO. OS TIMORENSES SÃO OS DONOS DO PAÍS E HÁ PORTUGUESES LÁ PORQUE OS TIMORENSES QUEREM POIS QUANDO NÃO QUISEREM TERMINAM A COOPERAÇÃO.ISTO É A PURA REALIDADE. QUISERAM A LINGUA PORTUGUESA COMO LINGUA NACIONAL, NÃO HÁ MELHOR QUE PORTUGUESES E BRASILEIROS PARA ENSINAREM. PENA É QUE PORTUGAL EM 500 ANOS NÃO ENSINOU NADA E AGORA DEPARA-SE COM UM PAIS QUE FALA BAHASA INDONÉSIO, FALAM ESTA LINGUA PORQUE A INDONÉSIA INVESTIU NA EDUCAÇÃO.ESTA É A REALIDADE. EU SOU PORTUGUES E NÃO ACREDITO QUE O GOVERNO PORTUGUES AJUDE COMO DEVE DE SER AQUELE POVO. O BRASI, ACREDITO SE O GOVERNO TIMORENSE SE VIRAR PARA ESTE PORTENTOSO PAÍS.

Gostei!
Gostaria mais de ter a oportunidade de conhecer Timor...
E que vivam as pessoas como o Senhor Queirós!

Gostei!
Gostaria mais de ter a oportunidade de conhecer Timor...
E que vivam as pessoas como o Senhor Queirós!

Enviar um comentário