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quinta-feira, dezembro 28, 2006 

Timor, 2006

Qualquer balanço que se faça sobre o ano de 2006 em Timor-Leste é mau, francamente mau. Retrocedemos em muitos aspectos, perdemos a credibilidade e o respeito de muitos países amigos e, pior que tudo, perdemos o respeito por nós próprios.
Inquietante é que, em menos de um ano, tenhamos desbaratado todo o capital lenta e pacientemente acumulado durante os longos anos de ocupação indonésia, alcançado mercê do comportamento de todo o povo. Fomos então corajosos, audaciosos, aguerridos, responsáveis, pacientes, determinados.
Uma das consequências da crise, da instabilidade que, desde Abril assola o país, prende-se com a vulgaridade, o desrespeito com que irresponsavelmente se trata a pessoa, quem quer que ela seja, excedendo, abusando do direito de liberdade de expressão que a todos assiste mas de todos exige responsabilidade.
Hoje, há muito quem esteja apenas ocupado em destruir tudo e todos. Facilmente se insulta, se denigre, se aponta o dedo. O ataque político é sempre pessoalizado, fulanizado, individualizado. As ideias vêm em último lugar.
Fala-se, diz-se, escreve-se, critica-se, ajuíza-se sem cuidar de aprofundar as razões de coisa nenhuma, sem querer perceber quais são e como serão as consequências de maldizer, atacar, destruir furiosamente.
É angustiante a perda de respeito por nós próprios. Ficámos sem referências. Não temos amor-próprio, auto-estima. Nem espírito de sobrevivência.
Nada nem ninguém vale coisa nenhuma porque a tudo e a todos se aplica uma etiqueta. Negativa, se não corresponde à nossa pessoal vontade, daí advindo desagradável rotulagem . Positiva, é-o apenas e só fruto do interesse particular, bem individualizado, daí resultando simpática etiquetagem. A rotulagem obedece sempre ao padrão “fulanização”.
Sendo um país tão falho de recursos humanos, tendo saído de um conflito longo e traumático e devendo ter como objectivo utilizar todos os recursos na estruturação do tecido social logo, – utilizando agora o chavão dito e usado à exaustão em Timor-Leste – na construção da Nação timorense, ao invés de se gastarem energias no afã de denegrir o próximo por um qualquer motivo de lana caprina, dever-se-ia acarinhar a pessoa, valorizando o ser timorense.
Só mesmo a distracção colectiva pode explicar esta necessidade de auto-destruição! Porque ao maltratar o próximo, somos nós próprios maltratados.
E mais parece que ninguém se adaptou aos novos tempos, os da independência sofridamente conseguida.
Estamos a transformar-nos numa Nação fragmentada e, sem referências, sem figuras, sem povo que identifique esta velha Nação alcandorada a país independente em 2002, seremos presa fácil a qualquer forasteiro, homem ou instituição, que queira transformar-se em novo e heróico salvador de Timor-Leste.
Seria bom que em 2007 tudo fosse diferente!

Acho que já é altura de se deixar os ódios de lado e começar a pouco e pouco a construir esse belo país. O povo timorense merece. Já chega de invejas, velhos ódios, e tudo de mau que não deixa o país caminhar na direcção certa. E não é só criticando este e aquele que se faz alguma coisa, seja em que país for, mas sim a força do trabalho conjunto.
Desejo de fundo do coração que o ano de 2007 seja um novo alvorecer para vós todos!

Não, juro que não estou a fazer gazeta! Não sei que mistério é este! Só sei que não consigo entrar no blog. No painel surge a indicação de que "este blog foi transferido para novo blogger". Mas que grande mistério! Vou ficar à espera de instruções do José Vítor Malheiros. Até lá, feliz Ano Novo!

Ainda sem poder aceder ao blog, aproveito este espaço para dar notícias


Ontem, depois das pedradas a fazer um estrondo enorme no telhado da casa, aparece o G. em correria desenfreada avisando-me de que haviam partido os vidros da casa dos empregados.
A conversa desenrola-se de dentro do muro para a rua. Não lhe via a cara e apenas ouvia a voz de um jovem irado contra os três jovens que, do alto do muro, lhe vão explicando que apenas querem trabalhar e não fizeram mal a ninguém.
Subo a um escadote e utilizo a mesma linguagem em resposta aos argumentos do jovem irado de um grupo de cinco mais calmos que nem intervêm na conversa. O jovem, bem constituído, braços tatuados, tronco nu, estava visivelmente alterado e transmitia raiva. Pareceria daquelas pessoas que querem vingar-se do Mundo inteiro!
- O meu pai fundou esta cidade. Já cá estou há muito tempo. Sou timorense. Sou desta terra.
- Olha, amigo, antes de nasceres já eu cá estava. E antes do teu pai, já os meus pais cá viviam. E também sou timorense.
- Pois, mas eu sou daqui e vocês não dão trabalho aos jovens do bairro. Só empregam pessoal da Fazenda.
- Sabes, amigo, eu também sou daqui. Mas, se queres emprego, fica a saber que não posso substituir-me ao Estado. Para além de que dou emprego a quem eu quiser.
Atiro-lhe ainda a vergonha que é criar tantos problemas quando ainda agora ascendemos à independência e aviso-o de que vou chamar a polícia.
- Chama a polícia, chama... Olha, eu chamo-me Manecas.
O grupo pede-me que não lhe ligue e arrasta-o para o bairro junto das bananeiras colado ao sopé da montanha.
Antes, porém, o dito Manecas ainda tem tempo para elucidar que é Colimau de Laga… Não é difícil perceber que está a tentar criar confusão: é que não rima a bota com a perdigota porque os Colimau são de Loromonu e Laga fica a Lorosae…
Antes de iniciar a conversa, ligo para a GNR que não tem a responsabilidade da segurança deste bairro, que me manda ligar para o 112 que não atende. Um helicóptero sobrevoa a nossa casa. Longos minutos depois, nova chamada para o 112 que continua a não atender. Ligo para o comando da polícia, para o 7230365, e surge outro interlocutor que fala tétum a quem explico o que aconteceu.
Entretanto, já o jovem e o seu grupo se haviam esfumado debaixo das bananeiras…
Agora que já passaram umas quantas horas sobre o sucedido, reflicto sobre a insegurança, o desemprego, o ódio, a violência e a falta de objectivos na vida que estão na base de tudo isto. Só isso justifica a intervenção intempestiva do jovem Manecas Colimau-Laga.
Vou tentar manter a serenidade. Até porque ainda me sinto animada do espírito do dia de Ano Bom e quero manter a esperança de que 2007 vai ser diferente…
PS: A Polícia já cá esteve a inteirar-se do que aconteceu e pessoal do bairro diz que o jovem conflituoso deu às de vila diogo...

Oi, de novo!

Eu deixei um comentário na sua postagem "assim vão os tempos".
Se pudesse ler, seria ótimo! =)

Parabéns pelo Blog!

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