A identidade nacional de Timor-Leste
A identidade nacional da República Democrática de Timor-Leste teve como
vetor o regime colonial português que durou quase meio milénio pelo que é
natural que desse convívio secular, a par de muitas e conhecidas dissensões, se
tenham firmado afetos em consequência da história, da religião e da língua
comuns. Por outro lado, como resultado da miscigenação e dessa convivência
secular surgiu uma realidade cultural própria que inclui aspetos comuns às
culturas em longa interação.
Acrescente-se que a relação entre os timorenses e portugueses se revela
muito peculiar; como afirma Miguel Galvão Teles "A
situação de Timor-Leste exprimiu ainda o paradoxo ou a ironia do empenho na
defesa da autodeterminação e dos direitos do povo colonizado pela antiga
potência colonial”.
O que dizemos constitui certamente uma das exceções nas relações entre
Estado colonizador e território colonizado e é impossível não realçar o que
consiste numa particularidade na história dos povos.
Os primeiros portugueses, missionários, que aportaram a Lifau, em Oecussi,
em 1515, trouxeram para Timor não só a religião e a língua como também a escrita
e deixaram para a História o marco da convivência entre duas civilizações
distintas e o início de uma nova era timorense. É precisamente devido a esse
evento que a celebração dos 500 anos de história comum entre timorenses e
portugueses se reveste de especial importância. Em Lifau, o berço da nossa
nacionalidade e da interiorização da consciência identitária timorense, em dia
igualmente relevante para a História recente de Timor-Leste, do 40º aniversário
da proclamação da independência em 28 de Novembro de 1975, comemorou-se hoje
essa data com a dignidade que a circunstância exige.
É evidente, todos o sabemos, que os
primeiros portugueses vieram para comerciar e não para criar uma Nação, mas é
uma realidade incontornável que a presença secular portuguesa em terras do
sândalo ajudou à criação da identidade nacional, cultural e social timorense. A
génese do Estado de Timor-Leste reside na existência de características que o
distinguem dos povos das ilhas vizinhas e emergem da vivência comum e da interação
com um povo oriundo literalmente do outro lado do Mundo que transformaram o
território numa comunidade singular nesta região do globo.
Timor-Leste é portador de uma identidade própria que foi cultivando e
construindo em simultaneidade com a compreensão da importância da sua
diferença: paulatinamente, à cultura ancestral, acrescentou os novos valores
trazidos pelos navegadores portugueses e se foram enraizando como traços de uma
identidade criadora do nacionalismo timorense, que abriu caminho para a necessária
perceção de que os timorenses são um só povo de uma só pátria que comunga o sentimento de pertença a uma nação que o Estado
materializa; o timorense apreendeu que “pertencer significa
simultaneamente ser incluído numa comunidade e estar separado e diferenciado
de outra”.
Importa sobremaneira sublinhar que, a par do aprofundamento e da
consciencialização da sua identidade, se impõe ao novo Estado de Timor-Leste
devida atenção aos vários desafios destes novos tempos.
Efetivamente, com o surgimento de nova ordem mundial, sem identidade
própria, um Estado não sobrevive ou sobrevive mal quando se deixa absorver por
uma entidade mais forte; é fundamental que os Estados pequenos e frágeis como
Timor-Leste concebam formas de sobrevivência e de defesa da sua soberania
entendendo e consolidando a identidade nacional, sustentada por uma cultura nacional unificadora.
Apesar de ser um Estado pequeno, novo e frágil, Timor-Leste é diferente na história, na cultura, na religião e na
língua que lhe conferem identidade
própria e é detentor de uma identidade forte, antiga, de cinco
séculos, baseada na religião católica e na língua portuguesa, para além de
possuir uma língua nacional que igualmente contribui para a consolidação da
identidade nacional e une os timorenses que se destacam dos demais porque
são diferentes. Por outro lado, o Estado de Timor-Leste está consciente de que ninguém sobrevive sozinho e
está atento à crescente interdependência dos Estados. A língua e um passado
histórico comum são a razão da sua integração na Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa quando “a política global está a ser reconfigurada segundo
linhas culturais e os povos e os países com culturas análogas se aproximam
enquanto os que têm culturas diferentes se afastam.