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terça-feira, outubro 16, 2007 

Porque não imortais?

Sobre a história do morto-vivo, há versões para todos os gostos, umas mais verosímeis que outras, o que, uma vez mais demonstra a prodigiosa imaginação timorense, o gosto e o pendor para histórias fantásticas!
Xavier deixou-se fotografar com “Vicente Reis” mas a verdade é que, quando o fez, não tinha a certeza de que era realmente o Sahe, mal recordado das suas feições de jovem, sem os traços de envelhecimento que o homem da foto mostra, afirmou o próprio Xavier à comunicação social ao mesmo tempo que declarava que Vicente está vivo.
Marito Reis, um dos irmãos de Vicente, disse precisamente o contrário: Antes de morrer, Vicente cortara uma manta ao meio, ficando com metade e entregando a outra metade ao filho. No corpo entretanto encontrado, estava a metade da manta de Vicente.
Xanana Gusmão também já se pronunciou. E manisfestou-se contra os contadores destas histórias que apenas vêm alarmar o povo, sugeidno a prisão dos seus autores.
Diz um dos cépticos que o homem que quer ser (ou é) Vicente se chama Manuel, é de Aileu e fez a campanha eleitoral ao lado de Xavier. Vicente Reis está morto e a prova é que nas suas ossadas lhe falta um pé, cortado pelos indonésios que o mostraram como prova da sua morte.
Outro acrescenta que ele, o pseudo-Vicente se tem passeado em Díli desde sempre, onde é conhecido.
Mas também os há que acreditam que pode ser Sahe, até porque desde há muito tempo que se fala de um grupo de isolados nas montanhas. E por essa ordem de ideias se chega à conclusão de que David Alex e Mau Hodu também podem estar vivos.
Entretanto, está prometido que, no próximo dia 27, Vicente descerá das montanhas de Aileu e virá a Díli, pelo seu pé.
Recuando um bom bocado mais no tempo, antes ainda da ocupação indonésia, houve dois acidentes que alimentaram muitas histórias que perduram até hoje.
Não me recordo bem se terá sido na década de 50 ou no início dos anos 60 quando o avião quadrimotor de 16 lugares que dava uma nota de mediana riqueza à então província de Timor Português caiu no mar, a caminho de Darwin. Não houve sobreviventes e nunca foram encontrados destroços e, por isso, surgiram de imediato muitas dúvidas sobre a existência de acidente. O piloto continuava vivo!

Claro que nunca mais houve novo quadrimotor que Timor era longe de mais e mesmo sendo parte do Império, despender dinheiro em dois aviões bons para tão pequena província era demais!
As viagens aéreas – internas – passaram então a ser asseguradas por um aviãozito de oito lugares que, apesar de pequenino, em mau estado e com reparações à la minute feitas pelo Sr. Paquito Morato, ainda foi utilizado nas buscas ao navio Arbiru - que veio substituir o velhíssimo D. Aleixo - desaparecido logo no início dos anos 70, se me não falha a memória, em 1971.
Apanhado por violenta tempestade, o navio Arbiru desapareceu a caminho de Singapura ou Hong Kong. Houve um sobrevivente que - de acordo com o testemunho dado na época - se salvou por se ter agarrado a um pedaço de madeira. Do navio, nada. Do capitão e dos outros passageiros, nem sombra! Lembro-me ainda de alguém me ter contado que o sobrevivente ainda vira o capitão olhando o mar enfurecido enquanto fumava um cigarro bem aceso, à prova de água pela certa, já que, apesar da chuva que caía em grandes bátegas não se apagava!
Uns tempos depois, alguém contou ter sabido que o Arbiru estava atracado num porto asiático, pintado de novo. E os passageiros foram vistos numa ilhota próxima. Só que não podiam falar...
Nós, timorenses, aceitamos e convivemos bem com a morte, mas o morto, precisamos de o ver... para crer, como são Tomé. Porque, se pudermos permanecer vivos, ainda melhor! Morrer, morrer completamente não é connosco. Quando muito passamos para o lado de lá, e passamos a gozar de outra forma de vida. Numa gruta, na montanha, no fundo do mar, nu
ma ilhota, até mesmo numa sepultura, nas entranhas do Ramelau, pouco importa! Mantemo-nos vivos!
Mas, já agora, porque não passarmos a imortais?

"Histórias" e Lendas" fazem parte da cultura de um povo.
Creio que devem continuar disponíveis e contadas à maneira de cada geração.
A meu ver,são um "bom" património.
O D.Sebastião há-de aparecer,numa manhã de nevoeiro...

Há cada coisa....
deparei-me com esta história no seu blogue do público e deleitei-me com ela na sua plenitude... não só pelos factos narrados,não só ela forma maravilhosa como é descrito, não só porque me fez lembrar a história dos soldados japoneses descobertos em meados de 70 ou 80 numa ilha do pacifico e que desconheciam que a 2ª guerra tinha acabado.. mas também porque para lá do real e do razoavel as vezes precisamos de acreditar que há algo de mistico nos acasos da vida, como se qualquer coisa nos escapasse..
se há quem acredite que o elvis esteja vivo e ele morreu na sua casa, num ambiente familiar, se foi visto por médicos, se a sua morte foi confirmada sem a mínima dúvida... porque não haver quem acredite que SAHE não está morto, porque não haver quem admita essa possibilidade, tanto mais que falamos num contexto de guerra em que a confirmação da morte e identificação do cadaver podem nem sequer ter sido as ideais.
é claro que pode e se calhar é uma imensa fraude... o que até é algo que pode ser facilmente provado através de testes de adn...é claro que se for fraude tal deve ser punido pois afecta a familia de quem faleceu e a consciencia histórica e social colectiva do povo timorense e bem assim a sua identidade.

No fundo no fundo, realidade ou fraude.. mito ou facto há algo que sobressai deste texto... qualquer coisa de desejo de identidade qualquer coisa de reconhecimento,qualquer coisa de pertença.
Por certo a chamada de atenção para as pessoas homens e mulheres anónimas que desempenharam essa missão nacional que foi e ainda é em alguns domínios a luta pela liberdade... com certeza o sentir-se pátria.

Talves por isso tenha também achado fantástico o texto que escreveu no post seguinte, porque dá alguma luz sobre este aspecto.

em verdade digo que a curiosidade que tinha nos tempos de menino voltou agora... esperemos por dia 27...

adorei visitar este espaço

Olá, professora Ângela navego pela internet a procura de informações sobre o Timor Leste, pois é assunto que devo desenvolver para a aula de geografia no próximo dia 7 de novembro.
Moro na cidade de Porto Alegre no extremo sul do Brasil,, próximo ao paralelo 30º, e estudo na 8ª série do ensino fundamental.
Tenho 14 anos.
Minha professora, da escola pública, solicitou um trabalho sobre vários países, eu escolhi o Timor Leste.
Lendo o seu blog pensei que poderias me ajudar a concluir o trabalho escolar. Pode ser?
Bem, preciso relatar como vivem os jovens do Timor Leste (li tua matéria sobre o futuro..., como encaram a vida atual e as condições socio-econômicas? Conte-me algo sobre as escolas, sobre o acesso ao ensino médio e superior, as condições das universidades públicas e também como está o campo de trabalho para os jovens colegas e com qual idade iniciam a vida no trabalho?
Também preciso informar sobre os aspectos da saúde dos jovens; gravidez na adolescência, drogatização, AIDS e campanhas voltadas especificamente para o público jovem.
Por último gostaria de um relato sobre o comportamento dos jovens Timorenses, músicas preferidas, lazer, religião e qual o esporte mais popular entre o pessoal.
Sei que o Timor passa por uma instabilidade no momento. Aqui no Brasil temos vários problemas socias e econômicos, por sorte nenhuma guerra civil, mas ainda há luta entre policiais e traficantes no Rio de Janeiro, por exemplo. No nordeste temos o clima seco onde famílias sofrem pela falta de água e alimentos. No sul a vida não é tão conturbada, temos trabalho para nossos pais e escola para nós e o governo do presidente Lula trabalha para melhorar a sociedade em especial o povo mais sofrido das classes baixas. Aqui no Rio Grande do Sul somos chamados de gaúchos,falamos português mas temos muita influência dos espanhóis e de nossos vizinhos argentinos e uruguaios. Os gaúchos se diferem um pouco dos demais brasileiros pelos costumes e também porque no passado defendemos as fronteira do país, por isso somos aguerridos.
Posso contar com o auxílio da srª para este estudo?
Obrigado! e aguardo as respostas e observações sobre o teu país e os jovens.
Arthur Devit
devit@correiodopovo.com.br

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