Braço de Ferro?
A transferência dos refugiados/deslocados para os locais de acolhimento preparados pelo governo parecia estar a efectuar-se sem problemas. Contudo, o número dos que aceitaram regressar aos distritos, voltar para as antigas moradas ou acolher-se nos locais de acolhimento do Governo é de pouco mais de 1.500 pessoas, correspondentes a 229 famílias, cumprindo a sua parte numa acção que está a ser desenvolvida pelo Ministério do Trabalho e da Reinserção Comunitária, com o apoio do Ministério das Obras Públicas e das Forças Armadas.
O plano do governo previa o reforço das condições de segurança nos bairros da capital, a criação de um programa de apoio que previa o transporte para os distritos ou aldeias de origem e a entrega de dose reforçada de ajuda alimentar e de materiais de construção, para recuperação ou criação de novas residências.
Mas, números são números: são quase 30 mil os que se negam a sair dos campos. Em causa, estão os direitos. Diz o porta-voz dos grupos de refugiados/deslocados dos vários campos espalhados pela cidade que a actuação do Governo constitui uma violação dos seus direitos, uma vez que, dizem, a mudança se iniciou sem seu prévio consentimento e sem terem sido criadas as necessárias condições de segurança. Ninguém lhes perguntou nada e eles entendem que têm uma palavra a dizer.
Os refugiados/deslocados negam-se a sair das suas tendas ainda que as condições de habitabilidade dos respectivos campos tenham piorado desde que começou a época das chuvas, mesmo que volte a acontecer o que se viu há dias, em noite de intenso vendaval, quando muitas das tendas voaram e os seus habitantes ficaram à mercê da chuva e do vento e mesmo sabendo que não vão continuar a receber ajuda alimentar.
No noticiário da RTTL, numa zona onde vai surgir um novo bairro popular, um dos populares queixava-se de que nada lhe haviam dito, ao mesmo que se lamentava do destino inglório da sua horta de uma dezena de pés de milho. O Ministro das Obras Públicas esforçava-se por explicar que tudo se fez de acordo com a vontade dos refugiados/deslocados assegurando manter a horta até à colheita do milho.
Para além de muitas outras possíveis considerações, o que daqui ressalta é que ninguém está satisfeito. Também parece que ninguém se deixou sensibilizar pela iniciativa governamental, preferindo continuar a viver nas precárias condições dos campos, sem segurança, sem ajudas, na miséria.
E a impressão com que se fica é que se está a assistir a um braço de ferro o que sugere que anda no ar nova faceta da crise… Infelizmente!