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quarta-feira, janeiro 10, 2007 

E se a moda pega?

Acusadas de feitiçaria, três mulheres foram queimadas, assassinadas, em Maubara, uma bonita região que se estende do mar à montanha e dista uma hora de Díli.
Com o julgamento do ex-ministro do Interior, esta notícia passou ao de leve. No entanto, ela afigura-se-me preocupante.
Em Timor, desde sempre o ser humano viveu em natural coabitação
com seres do outro mundo, invísiveis mas presentes na vida quotidiana da aldeia, do suco e até mesmo da cidade.
Mais certo é que sempre coabitou com pessoas, como bruxos, feiticeiros e fantasmas, a quem eram atribuídos poderes recebidos, herdados de alguém de um Mundo desconhecido.
Alguns dos bruxos viviam sob o mesmo tecto; tal como no caso das três mulheres (avó, filha, e neta), se o pai ou a mãe eram “buan”,- o termo em tétum para bruxo ou feiticeiro -, o mais certo é que a família herdava o dom... Claro que, como também facilmente se depreende, numa sociedade fechada, com pouco contacto com o exterior, o “poder” dos feiticeiros era tido em alta consideração para além do receio normal que inspiravam. Mas daí
a serem mortos...
Por não ter ideia de cenas como esta nos tempos da minha meninice, resolvi perguntar à minha volta se assim era em tempos idos.
José falou-me de um caso idêntico em 2000, em Lospalos, frisando que
o assassino da pobre vítima foi parar à prisão.
Marta diz-me que, no tempo dos portugueses, nos sucos mais
recônditos, por vezes os feiticeiros eram espancados, acrescentando que “a notícia nem chegava a Díli”. Marta dá-me conta ainda de que, no tempo da ocupação indonésia, era hábito meter a vítima num saco, transportando-a “como se faz aos porcos” e espancá-la até à morte...
Carlos concorda e acrescenta que no tempo da Indonésia era assim: volta e meia desaparecia alguém por ser feiticeiro...
Como bem questionam os três, quem tem evidências sobre o facto de se ser ou não bruxo e dos seus respectivos actos de bruxaria? E, porque bruxos e feiticeiros sempre os houve em Timor, adiantam que pode bem ser uma manobra de diversão, para distrair a atenção das pessoas, ao mesmo tempo que vão dizendo que, forçosamente, tem de haver qualquer outra razão para este crime desumano e hediondo. É, dizem, um mau prenúncio!
Entendendo a perigosidade da coisa que nada tem de ligeiro, especialmente agora que os ânimos andam tão exaltados e o desvairo anda à solta, todos eles deixam no ar a pergunta: E se a moda pega?

Claro que não é uma questão de "se moda pegar". A prática sempre esteve cá. Cresci numa comunidade que tem por hábito consultar os feiticeiros locais para os ajudar a resolver os seus problemas. E esses chamados feiticeiros têm uma vida isolada. Por aquilo que me contam os mais idosos na ponta leste da ilha em tempos que já lá våo registaram-se casos de feiticeiros/as terem sido enterrados vivos por serem feiticeiros e por os seus trabalhos não terem funcionado...verdade ou nåo sei, são palavra de muitos lia naens cuja missão é passar oralmente as histórias das suas aldeias para que os mais novos fiquem a conhecer as suas raizes. Mas o problema pode não ser só por serem feiticeiras....há o problema de vingança e começa-se a dizer que A, B, ou C são buans, matan tomak pelos que é logo aí que os acusados começam a sofrer um isolamento do resto do pessoal. Começam a ser despresados, e maltrados. Muita coisa acontece e nunca ficamos a saber exactamente as suas origens...
Não é uma questão de moda , isso vem de muito longe, nunca feio a lume....só que desta vez a notícia foi espalhada e todos ficaram a saber. ...e o resto já todos sabem. É preocupante especialmente no acual ambiente de desconfiança e vingança em vivemos.

Este comentário foi removido pelo autor.

Bruxas e Bruxos sempre houve e haverá em todo o lado, mesmo nos Países que se dizem de desenvolvidos, mas daí até se voltar aos tempos Medievais...ou isto será apenas uma desculpa para eliminar alguém de que não se gosta? Aqui em Portugal, no tempo do Salazar, quando se queria deitar alguém abaixo dizia-se que era comunista, por outro lado e logo após o 25 de Abril para deitar alguém abaixo dizia-se que era fascista. "Isto é mudam-se os tempos mudam-se as vontades.

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