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quinta-feira, junho 28, 2007 

Ena, pá! Tantos partidos!!!

Quatro partidos, a APODETI, a ASDT/ FRETILIN, o KOTA e a UDT – nasceram em 1974.
Havia ainda o Partido Trabalhista mas esse, ainda que tenha tido uma presidente pós-1999, desapareceu de cena. E nem o aparecimento –ainda que fugaz - aquando das presidenciais foi suficiente para o revitalizar.
Há muitos partidos em Timor-Leste, demasiados, consideram alguns observadores que acrescentam dizendo que, em Timor, a exemplo das universidades, os partidos nascem como cogumelos.
A profusão de partidos talvez se explique pela natural evolução das pessoas. Tempos novos, ideias novas… Por outro lado, em Timor-Leste, a tolerância das pessoas varia conforme os momentos, os interesses e os humores. Se alguém não gosta de uma atitude do líder do seu partido, o mais certo é nem perder tempo. Não vale a pena debater, nem lutar pela alternância na liderança do partido. Esse caminho pode ser muito democrático mas, já que a democracia reconhece o direito de formar partidos e acarinha a pluralidade partidária, torna-se mais fácil fundar um novo partido. E vá de se formar novo partido que, às vezes, se limita a quatro paredes e a um apelido!!!
Pode, porém, acontecer que haja apenas desvios de rota, como é o caso da FRETILIN-Mudança, a versão moderada da histórica FRETILIN, agora liderada pelo grupo de Maputo de Mari Alkatiri,
A FRETILIN-Mudança - cujo líder, José Luís Guterres, é um dos fundadores desse partido, ocupou o cargo de Embaixador em Nova Iorque e foi MNE de Julho de 2006 a Maio de 2007 -, é a variação mais mediática da FRETILIN que, passados quase 33 anos sobre a data do seu nascimento, se mantém igual ao que era em 1974-75.
Em 1974, a FRETILIN queria ter uma intervenção mais radical e, quando entendeu que a ASDT era demasiado moderada, mudou de nome e de estilo, transformando-se numa Frente, à boa maneira revolucionária. E, mesmo sendo hoje um partido, isso não quer dizer que aceite facilmente no seu seio a coabitação interna com as várias nuances entretanto surgidas.
Muitos anos mais tarde, já depois de 2000, alguns elementos da FRETILIN que permaneceram em Timor quando o território estava ocupado pela Indonésia, não se identificaram nesse partido. Assim renasceu a ASDT de Francisco Xavier do Amaral, o proclamador da República unilateralmente declarada pela FRETILIN a 28 de Novembro de 1975 que, no mato, divergiu da orientação da ala radical da FRETILIN.
Com isso, surge outra dúvida: será a FRETILIN mãe/pai da ASDT? Ou será ao contrário?
Também acontece que nem todos estão dispostos a aparecer numa situação de inferioridade, sem voz activa, sem voto em nenhuma matéria. Pelo que é normal que nasçam outros partidos. Uns, são os filhos da FRETILIN, de que o mais célebre é o CNRT.
A FRETILIN não perdoa a Xanana que dela se tenha apartado em 1987, quando decidiu despartidarizar a luta. Xanana também não gostou nada que o grupo de Maputo da FRETILIN não o tivesse na conta de Pai da Resistência.
A relação é de amor-ódio. Tão depressa se batem e se insultam, como se beijam apaixonadamente. Ambos gostam do Poder e ambos assumem que podem ganhar por percentagens altíssimas, menosprezando ambos a importância dos seus adversários.
Mais velho que o CNRT é o PNT de Abílio Araújo, fervoroso adepto da FRETILIN e da independência quando, há muito, muito tempo, era um radical …
Depois, os negócios e o amor por uma vida de conforto foram mais fortes. De revolucionário, Abílio passou a empresário de sucesso, seguidamente a ter-se aproximado da Indonésia. Nos anos idos de 90, protagonizou os encontros de reconciliação de Londres e, com o apoio da Indonésia, quis reunir pró-integracionistas e pró-independentistas.
Há, entre os dissidentes da FRETILIN, uns quantos sobre os quais pendem algumas dúvidas. Tanto podem ser filhos ou enteados, como irmãos ou primos afastados… De comum, têm algumas ideias e a vida feita no mato, lutando na clandestinidade contra a ocupação estrangeira.
Por exemplo, a Undertim, que tem à cabeça L-Sete, veterano das FALINTIL (que foi até 1987 o braço armado da FRETILIN), para além de orientar espiritualmente a seita do Sagrado Coração.
Descontente com o tratamento dado pela FRETILIN às FALINTIL, sob a batuta de L-Sete, o CPD/RDTL despiu a vestimenta de movimento de desordem interna e vestiu a de partido político, a UNDERTIM, ganhando assim outra respeitabilidade, ainda que mantendo a orientação radical ao qual soma a vertente religiosa.
Entre os primeiros descontentes, estavam os COLIMAU (Mau de Mau Bere) 2000. Outro movimento agitador, de desordem interna. Tal como a UNDERTIM, também os Colimau se alimentavam de um culto quase seita ao qual não faltava um “bispo”! Um dia, descobriram que era mais prático enveredar pela política para assim melhor difundirem as suas ideias e formaram o PRDT.
Mais permeável às modas, o KOTA de hoje pouco tem a ver com o KOTA de 1974. Igual, apenas no nome. Manuel Tilman afastou os elementos que se situavam à direita e tanto pode encostar-se à esquerda como à direita, conforme os seus interesses de momento: esses aconselharam o líder que virasse à esquerda e se oferecesse em namoro descarado à FRETILIN.
A UDT, o mais antigo dos partidos timorenses, mantém-se igual a si própria. Perdeu terreno com a formação do PSD, quase desapareceu com a obra de engenharia das eleições de 2001 para a Assembleia Constituinte mas, o seu eleitorado mais conservador mantém-se fiel ao partido. O ano de 1975 marcou profundamente todos quantos sobreviveram às prisões e castigos da FRETILIN; os filhos dos que foram então assassinados, passados os primeiros anos de silêncio, assumem agora ser os continuadores do partido de eleição dos seus progenitores.
Depois de se saber que ocupara o cargo de vice-presidente do CNRT no interior do território de Timor, Mário Carrascalão assumiu as suas diferenças relativamente ao partido de que fora co-fundador, a UDT, e, convencido por Xanana Gusmão e Ramos Horta, criou o PSD, transferindo para este partido social-democrata grande parte dos simpatizantes da UDT.
Quanto à UDC/PDC, o seu líder – Vicente Guterres - era um dos representantes da UDT em Lisboa, juntamente com Moisés do Amaral e Paulo Pires. A dissidência surge entre os anos 80-90, quando João Carrascalão e Domingos Oliveira reorganizam a UDT.
Detinha um lugar no Parlamento mas o registo obrigatório dos partidos “matou” a UDC/PDC que não conseguiu registar-se e Vicente Guterres transferiu-se para o CNRT.
O PDC do Reverendo Arlindo Marçal e de António Ximenes é “democrático-cristão”. Mas, que quererá isto dizer? Será uma dissidência da UDC?
Quanto ao PPT, o Partido do Povo de Timor, tanto pode ser filho do Kota como da UDT. É monárquico como KOTA e o seu líder, Jacob Xavier, dirigiu o conservador MNLTD, Movimento Nacional de Libertação de Timor Díli, surgido em Lisboa, depois de 1975.
Depois do referendo de 30 de Agosto de 1999, a APODETI lavou-se profundamente, descartou-se da pele de integracionista e transformou-se na Apodeti Pró-Referendo. Está praticamente inactiva.
Nos tempos da ocupação, os simpatizantes da APODETI não tiveram problemas com o poder ocupante. É a geração APODETI dos anos de ocupação que não se revê na cultura de 1974-1975. Filhos da mãe-nação indonésia, só tomaram contacto com a realidade da independência quando essa era inevitável e não tiveram outro remédio senão tentar apanhar o barco. Só que há o problema da língua da independência – o português – que é o seu calcanhar de Aquiles… No tempo da ocupação, não se falava português e o tétum era tolerado em casa. A língua malaia, a que os indonésios resolveram chamar bahasa indonésio é o traço comum do PR e do Milleniun Democrático, dois partidos formados recentemente. Ambos preconizam outra opção para além do português como língua oficial. E, se o líder do Partido Republicano ainda faz alguma cerimónia e vai lançando a defesa do tétum como primeira língua oficial, já quem tem as rédeas do Millenium, defende abertamente a escolha da língua indonésia.
Depois do Referendo, Xanana Gusmão incentivou o grupo de estudantes timorenses que haviam estudado na Indonésia, onde formaram as organizações estudantis de resistência como a RENETIL e a IMPETU, a organizar-se em partido político.
Nasceu o PD de Fernando Lasama de Araújo, Mariano Sabino e Rui Menezes. A estes, juntou-se Paulo Assis, que fora anteriormente membro da FRETILIN.
Há, naturalmente dúvidas quanto ao parentesco. Será o Partido Democrático filho de pai incógnito? E terá mãe cultural indonésia? Poderá ser prima afastada da FRETILIN e da UDT pela via da Resistência?
Um bom bocado mais à esquerda, temos o PST de Avelino Coelho, outro dos animadores da RENETIL. Será o PST o parente mais radical e proletário da FRETILIN? Mas, como se explica que, sendo assim, o PST também prefira o tétum ou o indonésio ao português?
Finalmente, o PUN, Partido de Unidade Nacional, liderado por Fernanda Borges que foi Ministra das Finanças do primeiro governo chefiado por Alkatiri.
Talvez descenda da FRETILIN, mas, pela certa rebelou-se contra o pai… Surge numa versão leve, ligeira, a sua presidente fala num tom baixo, sereno e muito, muito populista. O que não esclarece nada porque ainda ninguém sabe concretamente quem estará por detrás do PUN.

É vasto o leque dos partidos políticos timorenses. Mas, se analisarmos atentamente, verificamos que todos eles, mais próximos ou mais afastados, descendem de dois partidos: UDT e FRETILIN. O que levanta de imediato uma série de perguntas, a primeira das quais é “ Então, para quê tantos partidos?”
Também não deixa de ser curioso que os haja defensores de que os dois partidos históricos de 1974-75, UDT e FRETILIN, devem deixar as lides políticas uma vez que já cumpriram a sua obrigação fazendo Resistência e lutando pela independência.
O que, também é, no mínimo, bizarro, ridículo e falho de razoabilidade. Porque, como defendia alguém, “então, se eles é que lutaram pela independência e sofreram na pele o jugo do ocupante, que sentido faz, desaparecerem agora, sair de cena, virar costas ao povo e ao país por cuja independência lutaram contra ventos e marés, esquecer aqueles que morreram em defesa dos seus ideais, para dar lugar àqueles que nada fizeram senão assumir o corte do cordão umbilical quando formaram os seus próprios partidos?”.

Em 1974-75, houve um outro partido político, ADITLA (Associação Democrática para a Inegração de Timor Leste na Austrália)

Alguem vai reestablecê-la?

Esse pretenso Partido foi da autoria (para que dizer o nome) de um senhor que explorava o cafe do Clube Uniao (em frente do Estadio de Dili, mas duvido que tivesse tido estatuto de Partido, pois na epoca soh se pensava em Independencia.

Mas o meu comentario eh principalmente para o "Ena pah! Tantos partidos!!!", jah se esqueceram quantos partidos surjiram em Portugal depois do 25 de Abril, e quantos governos nos 5 anos seguintes?
Muitas pessoas falam de Timor esquecendo-se da realidade do que vai pelo mundo,(nao eh o caso da autora)as convulsoes que originaram a queda do Alkatiri, nao sao um apanagio da Jovem Democracia Timorense. Quantas tentativas de golpes de Estado tiveram lugar em Portugal depois da revolucao dos cravos? Bem tudo isto nao falando do assassinato(?) dum Primeiro Ministro.
Manuel Carlos

O MNLITD (e não MNLTD) e Jacob Xavier era o Presidente, mas o seu papel era mais representativo que de real poder.

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