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domingo, julho 15, 2007 

Ao correr da pena…



Ainda não temos Governo. Mas, como disse anteontem o Presidente da República, há tempo!
Vamos, pois, confiar que o tempo ajude a descobrir uma solução e que o novo Governo venha para ficar até 2012!
Enquanto se espera que o tempo nos traga o remédio e os líderes dos partidos políticos concluam e ponham em prática o que vão reflectindo dia-a-dia, reunião a reunião e com a instabilidade arredada da cidade – ou, pelo menos, em pausa de fim-de-semana – hoje, domingo, as praias encheram-se de gente. Muitos carros da ONU, outros tantos do governo e muitos outros de particulares. O areal das praias da Areia Branca e do Cristo-Rei estava repleto de banhistas! Famílias inteiras ao piquenique, empregados dos dois bares da praia atarefados, vendedores de tangerinas, enfim, a Areia Branca respirava normalidade!
O fato-de-banho não faz parte do vestuário dos timorenses, particularmente das mulheres. E se as crianças se banham nuas, sem vergonha de expor a sua nudez, as mulheres metem-se na água vestidas como se fossem à missa ou, quanto muito, com calções até quase ao joelho, não vá a visão concupiscente das suas pernas ou do seus seios criar algum dissabor provocado pelo olhar de alguém mais atrevido! A roupa molhada cola-se ao corpo e, para se evitar que se adivinhe o que está por baixo, nada como transportar uma lipa ou um sarong bem largo que esconda o fruto do pecado!
A propósito de crianças: há tantas crianças em Timor-leste que, no Dia Mundial da População, o nosso presidente sugeriu que se diminuísse a taxa de natalidade e os casais se limitassem a dois ou três filhos.
Gostei da sugestão que me parece bem corajosa. É que, com tanta criança e com o desenvolvimento a passo de caracol, a situação irá certamente deteriorar-se. O Estado não se tem preocupado muito em melhorar a qualidade de vida dos pais de maneira a garantir que a vida dos filhos - os tais que são o “futuro de Timor-Leste”- seja mais saudável.
Ainda esta semana contactei com um grupo de jovens que, depois de dois meses de estágio em várias instituições públicas e privadas regressou ao seu colégio em Lospalos onde iria apresentar o relatório de estágio, de fim de curso.
Dizia uma delas que, depois, “é fazer de novo as malas e voltar para Díli à procura de emprego…” Ora sabendo-se que o desemprego está acima dos 90%, onde vão as jovens trabalhar? Quantas delas arranjarão trabalho?
Todos os anos saem dos estabelecimentos de ensino milhares de jovens. Com o mercado de trabalho quase a zero, que vai ser da juventude de Timor-Leste?

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O blog é um excelente ponto de encontro. É verdade que, às vezes, também dá origem a alguns comentários menos agradáveis. Mas, com esses, não vale a pena perder tempo, especialmente quando se “conhecem” pessoas que se tornam nossas amigas e se preocupam com as dificuldades dos “irmãos” timorenses.
O Augusto Lança, professor, que já esteve várias vezes em Timor, enviou-me dois sobrescritos carregados de livros juvenis que já foram distribuídos; um outro sobrescrito trazia o “ Banqueiro dos Pobres”, livro enviado por Manuel António Rebelo, acompanhado de um simpático postal através do qual fiquei a saber que é um jovem.
O Augusto Lança até escreveu em tétum!
A dada da emissão dos CTT portugueses é de Janeiro deste ano e as encomendas chegaram no princípio de Julho.
Levou tempo, é certo, mas o importante é que chegaram ao destino! O que me leva a sugerir a um outro amigo, dos Açores, que envie para a minha morada os tais livros que há muito tem guardados à espera de destinatário...
Entretanto lembrei-me de que uma senhora me pediu livros (primária e secundária) para a sua escola.
Espero é que, tal como infelizmente aconteceu com outros bens básicos enviados por via marítima, não haja nenhuma sumidade a “armazenar” indefinidamente na Alfândega à espera que sejam pagas taxas – sem o pagamento das quais o tesouro do país ficará definitivamente mais pobre… - , quando, afinal, o material enviado apenas tem como objectivo contribuir para o saber, enriquecimento cultural e desenvolvimento dos timorenses.

Desejo vivamente que o povo de Timor encontre rapidamente solução para um governo estável e que promova a paz e o bem-estar de todos.
Rezo por isso.

(Ontem como hoje, Timor...).
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Artigo de 2006, do Prof. Boaventura de Sousa Santos - em Folha de São Paulo - a 4 Julho 2006.
(Disponível em, http://www.cebela.org.br/CbartigosDet.asp?artigo=66).

"Timor: é só o começo"

"A crise política em Timor, para além de ter colhido de surpresa a maior parte dos observadores, provoca algumas perplexidades e exige, por isso, uma análise menos trivial do que aquela que tem vindo a ser veiculada pela comunicação social internacional. Como é que um país, que ainda no final do ano passado teve eleições municipais, consideradas por todos os observadores internacionais como livres, pacíficas e justas, pode estar mergulhado numa crise de governabilidade? Como é que um país, que há três meses foi objecto de um elogioso relatório do Banco Mundial, que considerou um êxito a política económica do Governo, pode agora ser visto por alguns como um Estado falhado?

À medida que se aprofunda a crise em Timor Leste, os factores que a provocaram vão-se tornando mais evidentes. A interferência da Austrália na fabricação da crise está agora bem documentada e vem desde há vários anos. Documentos de política estratégica australiana de 2002 revelam a importância de Timor Leste para a consolidação da posição regional da Austrália e a determinação deste país em salvaguardar a todo o custo os seus interesses. Os interesses são económicos (as reservas de petróleo e gás natural estão calculadas em trinta mil milhões de dólares) e geo-militares (controlar rotas marítimas de águas profundas e travar a emergência do rival regional: a China). Desde o início da sua governação, o primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, um político lúcido, nacionalista mas não populista, centrou a sua política na defesa dos interesses de Timor, assumindo que eles não coincidiam necessariamente com os da Austrália. Isso ficou claro desde logo nas negociações sobre a partilha dos recursos do petróleo em que Alkatiri lutou por uma maior autonomia de Timor e uma mais equitativa partilha dos benefícios. O petróleo e o gás natural têm sido a desgraça dos países pobres (que o digam a Bolívia, o Iraque, a Nigéria ou Angola). E o David timorense ousou resistir ao Golias australiano, subindo de 20% para 50% a parte que caberia a Timor dos rendimentos dos recursos naturais existentes, procurando transformar e comercializar o gás natural a partir de Timor e não da Austrália, concedendo direitos de exploração a uma empresa chinesa nos campos de petróleo e gás sob o controlo de Dili. Por outro lado, Alkatiri resistiu às tácticas intimidatórias e ao unilateralismo que os australianos parecem ter aprendido em tempos recentes dos seus amigos norte-americanos. O Pacífico do Sul é hoje para a Austrália o que a América Latina tem sido para os EUA há quase duzentos anos. Ousou diversificar as suas relações internacionais, conferindo um lugar especial às relações com Portugal, o que foi considerado um acto hostil por parte da Austrália, e incluindo nelas o Brasil, Cuba, Malásia e China. Por tudo isto, Alkatiri tornou-se um alvo a abater. O facto de se tratar de um governante legitimamente eleito fez com que tal não fosse possível sem destruir a jovem democracia timorense. É isso que está em curso.

Uma interferência externa nunca tem êxito sem aliados internos que ampliem o descontentamento e fomentem a desordem. Há uma pequena elite descontente, quiçá ressentida por não lhe ter sido dado acesso aos fundos do petróleo. Há a Igreja Católica que, depois de ter tido um papel meritório na luta pela independência, não hesitou em pôr os seus interesses acima dos interesses da jovem democracia timorense ao provocar a desestabilização política com as vigílias de 2005 apenas porque o governo decidiu tornar facultativo o ensino da religião nas escolas. Toleram mal um primeiro-ministro muçulmano, mesmo laico e muito moderado, porque o ecumenismo é só para celebrar nas encíclicas. E há, obviamente, Ramos Horta, Prémio Nobel da Paz, um político de ambições desmedidas, totalmente alinhado com a Austrália e os EUA e que, por essa razão, sabe não ter hoje o apoio do resto da região para a sua candidatura a Secretário-Geral da ONU. Foi ele o responsável pela passividade chocante da CPLP (Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa) nesta crise. A tragédia de Ramos Horta é que nunca será um governante eleito pelo povo, pelos menos enquanto não afastar totalmente Mari Alkatiri. Para isso, é preciso transformar o conflito político num conflito jurídico, convertendo eventuais erros políticos em crimes e contar com o zelo de um Procurador-Geral para produzir a acusação. Daí que as organizações de direitos humanos, que tão alto ergueram a voz em defesa da democracia de Timor, tenham agora uma missão muito concreta a cumprir: conseguir bons advogados para Mari Alkatiri e financiar as despesas com a sua defesa.

E que dizer de Xanana Gusmão? Foi um bom guerrilheiro e é um mau presidente. Cada século não produz mais que um Nelson Mandela. Ao ameaçar renunciar, criou um cenário de golpe de Estado constitucional, um atentado directo à democracia por que tanto lutou. Um homem doente e mal aconselhado, corre o risco de hipotecar o crédito que ainda tem junto do povo para abrir caminho a um processo que acabará por destruí-lo.

Timor não é o Haiti dos australianos, mas, se o vier a ser, a culpa não será dos timorenses. Uma coisa parece certa, Timor é a primeira vítima da nova guerra-fria, apenas emergente, entre os EUA e a China. O sofrimento vai continuar".

Touching.

Passarei a ser um visitante mais assíduo.
Aqui obtenho notícias mais "vivas" que nos jornais.
Continuo muito confuso com as informações que chegam e ando a resistir muito à história de "os ídolos com pés de barro".
Vou manter-me atento.

Olá! Que a paz esteja contigo e com todos os seus.
Sempre que tiver um tempo disponível, passarei por aqui para saber mais sobre Timor, pois tenho uma grande afeição por este povo. Parabéns pelo blog. Muito bom!
Um abraço e fique com Deus.
Elcinéia Lannes
http://estudonline.blogspot.com
www.redebalsamo.com?5856

..."Timor não é o Haiti dos australianos, mas, se o vier a ser, a culpa não será dos timorenses. Uma coisa parece certa, Timor é a primeira vítima da nova guerra-fria, apenas emergente, entre os EUA e a China. O sofrimento vai continuar".

E tudo porque teve a "desdita" de ter como presidente democraticamente eleito Mário Alkatiri, homem que se preocupou mais com os interesses do Estado que dos interesses do grande capital internacional (na qual a igreja católica local, Ramos Horta e Xanana estão enfeudados).

Quem são os traidores?

Visite o Timor do Norte a Sul . Hoje recordando poemas de :
António Virisimo: "Raiar de esperança"

Xanana Gustmão: " :Oh! Liberdade!"

Este é endereço do Timor do Norte a Sul :

http://timordonorteasul.blogspot.com/

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