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terça-feira, junho 20, 2006 

Mistura explosiva


Areca, bétel e cal. Abre-se bem a folha de bétel, junta-se-lhe a noz de areca, bem seca de um tom castanho-avermelhado, acrescenta-se um pedacito de cal a gosto.
Tudo vem bem acondicionado numa cesta colorida. A minúscula embalagem de prata que traz a cal, deve ter pertencido aos tetravós da família.
Enrola-se o preparado, devagar, porque existe todo o tempo do Mundo. Tudo é feito tranquilamente. Vai-se trocando dois dedos de conversa. A mastigação da mistura faz-se lentamente. Vai-se saboreando.
Explosiva, para quem não está habituado. Arde muito. Mas não tem o sabor do piripiri nem da pimenta.
Estas meninas bem ataviadas, vestidas e penteadas a preceito, oferecem ao som de uma cantoria a acompanhar uma dança de Suai, o que têm de melhor aos visitantes. Por isso, não há espaço para a escusa.
Aceite-se a oferta generosa dos donos da casa.
Mastigue-se muito vagarosamente, ensaie-se um sorriso de quando em vez e tente-se imitar o que se observa à sua volta. Disfarçar, olhando para o ar também resulta! Ajuda a passar o tempo e distrai…
A mistura triturada, bem mastigada, transforma-se numa pequena bola. Há os que escolhem arrumá-la num dos cantos da bochecha. Outros preferem guardá-la do lado superior dos lábios.
Finalmente, assusta um bocadinho ter de cuspir: convém não engolir a saliva! Mas, por favor, não vale a pena entrar em pânico! A boca, a língua, os dentes, ficam vermelhos cor de sangue, mas é passageiro…
E não é considerado feio cuspir para o chão!
Não foi assim há tanto tempo. Em Setembro de 2005, quando o país estava sereno, Suai recebia assim os primeiros visitantes-turistas. Com pompa e circunstância.
Faz parte da cultura timorense. Dos momentos de lazer. Do convívio entre belu sira*. De Lorosae a Loromonu. De Rai Claran a Taci Feto e daqui a Taci Mane.

*belu sira - amigos

Eu deliro com estes textos. Aqui fico a saber mais sobre a cultura timorense. Espero pelos próximos capítulos.

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