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terça-feira, junho 27, 2006 

Chuva da manga

Em épocas normais, por esta altura, tendo já passado o período das chuvas e quando o tempo está mais fresco e mais ajustado à época seca, a chuva de Junho tem uma razão de ser. Chama-se-lhe a chuva da manga. A Mãe Natureza lava e prepara as flores da mangueira para que a árvore possa frutificar convenientemente.
Tenho as minhas dúvidas de que hoje alguém se tenha lembrado disto quando, a meio da tarde e de imprevisto, a chuva caiu torrencialmente.
A cidade está parada há dois meses. O resto do país, com a vinda de milhares de manifestantes de Timor Lorosae e de Timor Loromonu, logicamente também paralisou. Para além de que quase toda a administração pública mal funciona.
Somos um país pobre mas permitimo-nos ao luxo de estarmos em crise há dois meses. Com o estado de emergência por mais trinta dias, tudo se tornará mais gritante. Adivinham-se tempos difíceis!
Hoje, o director do hospital nacional, via televisão, pedia encarecidamente aos enfermeiros que regressassem ao hospital, apelando para o carácter generoso e responsável do seu trabalho em prol do próximo. Mas, quem estará preocupado com o seu próximo, quando o a insegurança, o medo, o perigo, tomaram conta de cada pessoa?
Esta noite, aqui em Comoro já arderam três casas. No bairro Pité, outras tantas. Recomeçaram as provocações Lorosae, Loromonu. Surrealista é que o emblemático Maubere de 1975 – nome próprio vulgar na zona Loromonu, apenas na zona dos caladis-tocodede-mambai mas inexistente na ponta leste, tenha sido hoje transposto para os manifestantes firakus de Lorosae…
Sente-se alguma leviandade em tudo. Já ninguém se preocupa com a sua horta, os seus animais, com o seu trabalho e, noutra dimensão bem maior, quase ninguém se preocupa com o país. Somos um país à toa, sem norte. Empenhámos o futuro. Prefiro, contudo, acreditar que somos um país adiado e não um país falhado.
Estamos todos à espera. Que a crise passe, que os nai ulun* decidam o melhor.
Talvez por tudo isso, a acreditar que tudo tem uma razão de ser neste país mesmo quando o improviso e o imprevisto marcam o destino da terra; talvez porque os manifestantes queiram mostrar que a razão está do seu lado fazendo-o ruidosa e aparatosamente, talvez, diria eu, seja conveniente acreditarmos que a chuva que desabou fortemente sobre a cidade não serviu desta vez apenas para lavar as mangueiras e preparar a sua frutificação mas, sim, para refrescar os ânimos, arrefecer os ímpetos. De cabeça fria, pensa-se melhor! E, já agora, talvez possamos acreditar que, lavada e ultrapassada a desordem em que nos encontramos, floresça a paz e a estabilidade em Timor-leste!

* líderes

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